O caso Breno #02

Sexta-feira, 9h10min

            A campainha soou novamente. Ann limpou os farelos da boca, estalou os dedos e indicou a porta para Igor. O mordomo acelerou os paços para atender a porta. Lá, uma jovem vestida com trajes sociais aparentava impaciência e ao entrar na mansão seus saltos fizeram um estalo irritante em contato com o mármore do chão. Em seu encalço uma jovem com um vestido floral entrou na mansão pedindo desculpas pelos modos da amiga.

- Onde está Breno? Gostaria de falar com ele agora! – A jovem falou andando até a sala de estar e jogando sua bolsa sobre o sofá, acomodando-se logo depois.

- O Senhor Breno está em repouso Senhorita Belo. – O mordomo fechou a porta e acelerou os paços para acompanhar a jovem.

- Acorde-o, tenho alguns assuntos a tratar com ele.

- Monique, deixe Breno dormir, o pobrezinho deve ter virado a noite...

- Na farra Carissa, na farra.

- Se as Senhoritas me permitem, vou verificar se o Patrão está disponível.

- Se não estiver, faço estar disponível em um minuto Igor. – Monique falou jogando os cabelos para trás e girando o dedo no ar.

            O mordomo se retirou e subiu as escadas. Aquela vida não era a que ele desejava, não mesmo. Vivia em um quarto mínimo de empregados, acordado todas as madrugadas por sua prima, ou ainda por seu Patrão quando este chegava bêbado de alguma festividade. Era comum Breno chegar embriagado em casa, cambaleando e tropeçando, sem ser capaz de chegar nem no primeiro degrau da escada. Igor não tinha estudado para aquilo. Não para aquela vida.

            Antes de bater a porta escutou algum barulho vindo do quarto. Poderia ser qualquer coisa: Breno poderia estar praticando oratória para os agradecimentos da promoção no trabalho; falando com uma nova garota que ele iria pegar a noite; ou mesmo conversando ao telefone sobre os preparativos da festa; se não fosse algumas palavras proferidas.

            Igor se aproximou sorrateiramente da porta, roçando seu ouvido sobre a madeira. Não podia escutar claramente o que o rapaz dizia, mas podia jurar que escutara algo como “está tudo preparado”, “todos estarão aqui no horário combinado” e o mais estranho “você tem certeza não é?! Não quero que ninguém inocente seja prejudicado”.

            Seus olhos se arregalaram. Algo estava acontecendo, Breno preparara algo que iria ser realizado aquela noite, durante a festa. Igor balançou a cabeça como quem acaba de acordar de um sonho. Olhou para os lados para ter certeza de que estava sozinho, respirou lentamente. Bateu na porta.

- Senhor?! As Senhoritas Monique Belo e Carissa Vilela lhe aguardam na sala de estar.

- Diga que estou descendo, não demoro.

- Sim Senhor. – Igor acelerou os paços descendo as escadas. Seu raciocínio estava acelerado de mais.

Sexta-feira, 9h40min

- Olá meninas. – Breno chegara ainda terminando de colocar sua camisa. – Desculpem a demora.

- Seu lema: atraso, logo me esperam... Logo sou querido... Logo sou metido. – Monique falou cortando o rapaz.

- Bom te ver novamente Monique.

- Ela está estressada porque teve que demitir alguns funcionários. – Carissa falou abraçando o rapaz em comprimento.

- A vida é cruel Monique, logo você se acostuma.

- Enfim, cruel é o Senhor não ter convidado seu próprio irmão para a festa.

- Essa história de novo? – O rapaz falou sentando largado em uma das poltronas da sala.

- Ele é seu irmão querendo ou não.

- E ele mora aqui, não preciso convidá-lo já que vai estar por aqui. É questão de lógica.

- E claro que vou estar na festa. – Esdras falou entrando na sala e dando uma volta em si mesmo para mostrar seus trajes para a festa.

- UAU! Está gatíssimo. – Carissa falou encantada com a elegância do rapaz.

- Arrasou! – Monique disparou seu olhar sobre os trajes de gala de Esdras. – Mas lembre que você não é mulher para estar ponto a uma hora dessas.

- Eu sei, só estou provando a roupa. Você gosta mesmo de implicar comigo não é? Diga logo que está afim de mim. – O rapaz se jogou ao lado da garota, deitando sua cabeça sobre seu colo.

            Sim, Esdras tinha seus charmes, uma elegância pessoal e certo ar de malandro que deixava algumas garotas encantadas. Monique por sua vez tinha um ar de agressiva, possessiva, mas tinha um carisma incompreensível. Ambos tinham uma estática que ninguém compreendia, mas a garota ia contra o que acreditava ser um engano do coração. Esdras, por sua vez mantinha seu foco na garota, apesar de não ser um jovem que acreditava em par perfeito, sentia que algo podia dar certo.