domingo, 4 de dezembro de 2011

Quando te deixei partir


          O sol nasceu para nós. Os lençóis quentes que nos cobriam traziam paz para nossos corpos, seu cheiro inebriante em minha cama, seus fios de cabelo no meu travesseiro, sua pele quente sobre a minha, suas mãos em meu peito, você completa em meus braços.

            Seus olhos brilhavam com o nascer do sol, seu belo sorriso, você estava perfeita em meus braços. Se eu pudesse parar o tempo ali, te ter eternamente comigo. Te abracei forte, beijei o alto de sua cabeça. Você estava linda, como um anjo inocente e perfeito.

            Você levantou da cama, deixou seus cabelos balançarem ao vento. Seu corpo nu parecia ceda lisa, parecia se mover ao ritmo de uma música inaudível aos mortais deste mundo, a melodia era seu balanço e as letras a sua história. Te beijei a nuca. Meu cheiro se misturava ao seu.

            Porque insistia em partir? Poderia ter ficado comigo para sempre. Minha casa era grande o suficiente para nossos corpos habitarem. Seu celular tocou, era seu marido, então lembrei o motivo de sua partida todas as manhãs. Ao menos ainda tinha você, ou pelo menos parte de você.

            Agora vestida você não mais me pertencia. O que eu poderia fazer? Você tinha que ser minha. Seu sorriso ainda perfeito, seus cabelos balançando delicadamente, seus olhos brilhantes, nada me era necessário a não ser você. Você era meu sol, minha lua e mesmo todas as estrelas do céu, nem todas elas juntas, poderiam formar você.

            O café que eu fazia todas as manhãs estava lhe esperando. Era um café forte como você sempre gostou. Seu sorriso de satisfação me deixava feliz, apenas eu sabia o que você precisava e gostava. Aquela caminhada até minha geladeira foi marcante para mim, você nunca tinha proferido aquelas palavras, era tímida eu sei. Te compreendia muito bem apenas pelo olhar. Sua caneta rabiscando o bloco de notas em minha geladeira.

            Levantei, lhe dei um beijo de despedida. Será que você veria? Alisei seu rosto, seus cabelos. Eles se entrelaçavam em meus dedos. Seu cheiro, eu não gostaria de esquecê-lo nunca. Então você se foi, tive que deixá-la ir. Será que você veria?

            Em minha geladeira suas letras no bloco de notas “te amo eternamente, se isso é possível. Pedirei o divorcio hoje”. Minha felicidade no ápice. Finalmente você seria inteiramente minha, incondicionalmente.

A música de seus movimentos, aquela que apenas eu escutava, foi interrompida. Uma freiada brusca. Um som curto e rápido decidia nosso destino. As lágrimas rolaram de meu rosto e eu me perguntava se ao menos você teria visto as escritas no copo de seu café: eu te amo eternamente, se isso é possível. As mesmas palavras escritas por nós, apagadas por um motorista bêbado.

A vida parecia querer me tirar você. Um motorista, um movimento. Não combinavam com nossa história, com seu movimento. Tudo parecia não fazer sentido, por quê? Voltei no tempo, te tive novamente em meus braços. Eu não entendia o motivo, não compreendia o final daquele amor. Apenas sei que não posso mudar o futuro, ele já está escrito. Te deixar partir mais uma vez foi difícil, mas te ter novamente foi essencial. Aproveitei cada minuto ao seu lado até ouvir o motorista que me tirou você quando te deixei ir.


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