sábado, 2 de junho de 2012

Uma gota de chuva.

            


               Venho do céu, uma gota de chuva. Caio sobre folhas verdes da alta árvore e escorro por entre os galhos. Rolo, em um caminho eterno, entre as frestas da casca repleta de líquen. Absorvido pela terra, que me mistura em lama, sou pisoteado por pés descalços. Cansado dessa vida difícil, repleto de obstáculos, me sobram resquícios de quem eu realmente era, uma gota.

                Os raios do sol me ofuscam, o quente asfalto me queima e me sinto ser levado, sou vapor d’água. As asas dos animais me chicoteiam, a transpiração de humanos me sufocam, me sinto mais uma vez perdido nesta atmosfera poluída. Me enoja o jeito como me tratam, me entristece não ser percebido, mas sei que ainda sim sou importante para você.

                Mais uma vez me vejo formar uma nuvem. De lá te observo e daí você me observa. Nunca me deu valor e agora me olhas como se eu fosse a pior coisa do mundo. Não lembra do que fiz para você ou o que fui para você? Achei que tinha significado algo em sua vida, mas agora vejo que não e por isso choro.

                Sou novamente uma gota de chuva, que cai outra vez do céu e recai sobre sua face. Se não tenho rosto para que possa me expressar então uso o teu. Neste momento sou a lágrima que escorre pelo seu rosto, uma memória de tudo o que vivemos, de tudo o que você me prometeu e não cumpriu, de todas as palavras que proferiu e me feriu, mas a vida é assim.

Caio novamente sobre o asfalto e me vejo novamente perdido neste ciclo. Mas quando eu novamente virar uma nuvem estarei e serei diferente, pois os ventos me levarão para outros ares e quem sabe lá não poderei cair sobre um novo rosto, uma nova história, sem que precise me lembrar com aflição de tudo o que passou?! Pois simplesmente nunca passei disso, uma gota de chuva.

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